segunda-feira, 23 de maio de 2011

Tirando o corpo fora

No nosso último encontro uma dimensão escondida de nós mesmos foi revelada em uma questão. Não no sentido de a desconhecermos. Ela sempre esteve lá, como as coisas do inconsciente bem no fundo, à sombra, quietas, meio que em segundo plano, mas ao mesmo tempo pulsantes. Já anunciado pela Claudinha, o aviso veio em forma de pergunta: "Alguém sabe como pega lepitospirose?" Não demos ouvido, apesar de escutarmos muito bem. Não à Claudinha, mas à nossa própria consciência, talvez por acreditarmos que somos imunes, afinal essas coisas não acontecem com a gente, só com os outros...

A visita sozinha da Rebeca à passarela de noitinha colocou à luz o risco. Materializado: ratos. Não alguns, mas muitos! Mais que dez. A presença real apagou a ilusão. A sensação do testemunho deu corpo a seu relato e trouxe à consciência a realidade, antes camuflada, esquecida, não encarada. Nós imbuídos de boas intenções queríamos mudar aquele espaço, mudá-lo para além de usá-lo: habitá-lo, com nossa dança, com nossos corpos o tornaríamos amigável, criaríamos laços afetivos com ele, apagaríamos suas marcas de abandono e violência. Cegos, surdos e mudos, salvar aquele espaço era nossa missão! Mas esse bem que queríamos fazer tem um risco, aquele que nos lembra o quanto mortais somos. Quem dança sempre coloca o corpo em risco, um risco meio calculado, mas sempre um risco... Quem dança, dança com seu corpo, no seu corpo, em corpo!

O quanto estamos disponíveis à uma proposta artística? Qual a noção posição ética, política diante do nosso trabalho artístico? Qual dimensão tem a nossa consciência? Qual é o nosso limite? Uma questão de inconsequência ou coragem ? Enquanto artistas sentimos na pele o quanto rejeitamos também aquele espaço, o quanto sabemos de seus perigos. Quanto custa mudá-lo? O ímpeto foi de tirar o corpo fora para alguns de nós! Por proteção, auto-ecologia, preservação... Com os limites questionados, o exercício da autonomia se impõe, a escolha é necessária, o posicionamento de cada um influencia todo o grupo, a pressão paralisa... Sem uma resposta só, agregamos à performance a questão!


A experiência de participar dessa proposta se resignificou para mim.  Poderíamos ter realizado ela e não ter chegado ao ponto que chegamos! O ponto de mutação!!! Adorei toda a discussão! Parabéns núcleo de formação! E obrigada!

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