terça-feira, 3 de maio de 2011
Gostar ou não gostar eis a questão?
Uma vez me perguntaram se eu, por assistir e estudar tanto a dança contemporânea, não perdia o prazer de assistír à um espetáculo. Uma questão interessante de se pensar já que o olhar de quem faz e pensa a dança fica tão informado, cheio de referências se tornando cada vez mais crítico. Quanto mais sabemos mais cruzamos informações, apreciamos detalhes e vemos. Ficamos sim mais exigentes, seletivos e talvez mais específicos. Aprendemos a ver coisas que não víamos antes e talvez só assim percebemos aquilo que não percebíamos antes. Será que é possível perceber algo que não sabemos? Ai meu Deus, mas aí já é outra questão, eu sei... Mas, enfim, ao saber, não tem mais volta. Não é reversível. Somos contaminados por aquilo que sabemos e aquilo passa a ser parte de nós. Nos perceber gostando de algo pode ser até interessante, mas não é tudo.
Outro dia, não sei bem onde, li uma frase que achei que de maneira simples explicava o que sentia e era mais ou menos assim: não deixo de contemplar e ficar extasiado diante de um céu estrelado só porque sei que as luzes que vejo são de estrelas qque já morreram e que viajam bilhares de quilômetros até a percepção dos meus olhos poderem captá-las.
Mas, tá certo, é uma frase que ajuda a entender o que acontece mas talvez não abarque a complexidade da questão. Primeiro que quanto mais sabemos, percebemos o quanto não sabemos e a dimensão do que ainda está por saber... E depois, saber jamais é demais se nos dermos conta de como o conhecimento intensifica nossa percepção! Aumentamos as possibilidades de conexões e associações de idéias. Mais sinapses acontecem. Expandimos nossa subjetividade!
Agora ter prazer com o que assiste é outro departamento. Prazer é uma coisa muito pessoal. E cada um tem com um tipo de coisa...
Temos o costume e a curiosidade ao saírmos de uma apresentação de perguntar pro outro se ele gostou do que viu. Gostar ou não gostar talvez seja pouco para descrever ou falar de uma experiência estética.
Voltando a pergunta anterior :Sim, talvez fique mais difícil de "gostar" no sentido absoluto que essa tal coisa de gostar de alguma coisa parece carregar... O sentido do gosto muitas vezes está ligado a ideia de como se algo fosse atingido pelo ideal da perfeição e bum, como mágica: eu simplesmente adoro aquilo... Ou quando é ligado ao prazer, hedonistas que somos. Se não é porque é um modelo ideal e se não é pelo nosso reflexo narcísico o que sobra? O que significa essa coisa de gostar? Dá onde vem essa magia? O que produz essa sensação? E na verdade, e o que mais me interessa, porque gostamos ou não gostamos?
Gosto de pensar ( não resisti de escrever assim) que gostar de alguma coisa revela mais de você mesmo do que da própria coisa. Gostar ou não gostar não atesta a "qualidade" da coisa. A gente pode gostar de algo ruim, não é? Refletir sobre o gostar pode ser bem mais divertido. Pois daí é que se revelam os valores, as referências, as ideologias, a visão de mundo que talvez estejam na base deste sentimento que te faz gostar de algo... Essa reflexão pode desvendar a sua relação com aquela coisa, a sua maneira de ver e criar sentidos para aquilo.
Fiquei pensante disso diante do espetáculo que assisti na última sexta-feira, no Instituto Cervantes, e a conversa/ apreciação estética que tive logo depois com Bruna e seu amigo, Rebeca, William e Isabela (de segunda e quarta). Obrigada pelo papo!
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Eu, particularmente, adoro saber o porquê te ter gostado ou não do espetáculo, filme, etc. Quando sinto abertura para discutir o gosto (é que "gosto não se discute"), vai longe a conversa... é aí que está o relacionamento com o outro... quando podemos ser modificados e modificar o outro. Pra quê passar por aqui invicto, pensando e sentindo sempre do mesmo jeito?
ResponderExcluirTambém acho que é pra isso que se estuda, que se namora, que se dança, que se vive... para mudar o tempo todo.
Companheirona Marcela, já pensou quantas vezes já tivemos conversas sobre porque gostamos ou não gostamos? Uma delícia mesmo! Um aprendizado! É como assistir o espetáculo de novo com os olhos do outro! Eu já aprendi uito com você! Beijos.
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