Por hoje estive fora de mim. Recusei a racionalidade e fui... Fui para fora de mim; saí do ventre quente dos sentidos absolutos. Pregaram-me o corpo inteiro com minha concessão, minha sincera passividade, o ato ingênuo de crer que o controle e a manipulação seriam possíveis, factuais. Esticaram-me a pele, deformaram-me o rosto; e eu... Eu sorri e disse “vá em frente”. Arrancaram-me do conforto, marcaram-me a epiderme, despiram meu corpo de seus subterfúgios, expondo-o a olhares minuciosos enquanto lutava contra a desfiguração.
Precisei me livrar de mim; recusar o que se tornara fragmento meu, aquilo que pressionava, construía, refazia, engendrava um outro eu – pura irracionalidade e angústia seca. Contorci, andei, mexi, expulsei, implorei para que acabasse, refugiei-me na certeza da efemeridade da dor.
Fisicamente findou-se o processo, mas curiosamente algo ainda me oprime. A intensidade da sensação é certeza de que saí, fui para longe... E agora retorno a mim, mas há estranheza; há desconforto no velho molde. Respiro melhor e, no entanto, não tenho laços sólidos, apenas vagas reminiscências do que fui outrora. Volto a mim em movimento contínuo de ruptura e invariância; não me resta centro fixo, só instabilidade de essências – um passo adiante necessariamente perturba tudo o que fora construído até então.
A vocês: obrigada.
Querida Bruna! Obrigada vc pelo texto. Maravilhoso! Me senti experimentando com vc todas essas sensações e questões. Fiquei arrepiada como quando vejo aqule estado de dança. Vc dançou com o texto pra mim. Beijo grande.
ResponderExcluirAdorei!!!
ResponderExcluirDepois desta experiência, passei a pensar naquele pessoal que faz suspensão (com ganchos enfiados na pele). No processo de passar por alguma dor e sair da dor, acho que fica no corpo uma espécie de poder. Se os pregadores altera tanto a gente, imaginem os ganchos pontiagudos, os budistas incendiando a si próprios... acho que o ser-humano não é tão humano assim...;)