sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Olhando para trás para mover adiante ou Tentando guardar na memória o que só o corpo sabe o que aconteceu

Retrospectiva Núcleo de Formação semestre 1 de 2012

No primeiro semestre de 2012 o foco de estudos  do Núcleo de Formação ASQ foi a "PRESENÇA" como um desdobramento dos estudos do último semestre de 2011  A partir da lente que esse interesse estabelece, as aulas, as experimentações e as discussões do primeiro semestre de 2012 nos levaram a refletir sobre como identificamos e podemos construir um estado de presença quando estamos dançando.
 Mas o que vem a ser essa tal de "Presença" a que estamos nos referindo?

Uma fina substancia perceptível que alguns performers e artistas do movimento parecem ter que nos fazem colar o olho neles sem querer perder nada do que fazem? O que faz um intérprete do movimento ter o poder de por meio de uma performance de dança  nos fazer apreciar o fato de estarmos vivos e  intensificar nossa percepção da vida?? O que é que nos faz perceber  em alguns  lindos corpos em movimento (e vcs sabem o que eu quero dizer exatamente com esse lindo... não é esse pseudolindo padrão de beleza imposto pela indústria de cosmeticos e da moda a que estamos oprimidos)  a condição humana com a expressão de seus movimentos? Como conseguem ser quase que transparentes de suas emoções e motivações e por meio dessa habilidade nos conectam com o que expressam e muitas vezes nos fazem conectar com nós mesmos ? Dessa pergunta muitas outras questões se desdobraram, motivadas por uma certa ânsia de entender , resumindo então: quais as habilidades que precisamos desenvolver para  atingir um estado vivo e expressivo na dança!


O que o corpo/mente precisa engajar para ser capaz de criar empatia com o espectador? Como nos envolver com os movimentos e atingir um estado de dança? Como podemos nos apoderar de nossos próprios corpos? Como estarmos incorporados de nossos próprios corpos? Pode parecer maluca essa pergunta pois parece impossível estarmos desincorporados do nosso  próprio corpo, no sentido mais concreto. Mas não é dificil perceber que, muitas vezes, nossa aprendizagem motora não nos permite realizar  alguns movimentos, que muitas vezes não confiamos no nosso corpo para realizar algumas ações, não respondemos com velocidade, eficiência e precisão com o corpo, perdemos os "reflexos", não temos consciência corporal, coordenação motora, domínio do tempo e do espaço, não entendemos o que sentimos, não nos permitimos e nem  queremos entrar em contato com o sentir... E isso pode realmente significar que, de uma certa forma, estamos fora de nosso corpo...


Nosso foco é a produção poética, perseguimos esse sonho de domínio do nosso próprio corpo e dos movimentos com esse intuito, e aí quando nos deparamos com a criação em dança percebemos ainda outro desafio : gerar movimentos originais, interessantes, expressivos, não estereotipados, autênticos. Nas discussões pensamos a medida do quanto isso é realmente importante e possível...  Discutimos assim sobre a dificuldade de expressar uma ideia, ou emoção, sensação e sentimento por meio de movimentos. Falamos de educação somática, a complexidade do corpo e da expressão humana, de como os conceitos e noções construídas sobre corpo, movimento e dança formatam nossa percepção e consequentemente nosso sentir e nosso produzir em dança... Analisamos  algumas de nossas noções ( morais, estéticas, sociais, culturais  e filosóficas) de corpo, movimento e dança  que influenciam e mediam a nossa aprendizagem.

Outros aspectos vieram à tona também como: Como encarar a repetição e o treino  de uma coreografia de forma que esta prática não mecanize o movimento, não "desensibilize" o corpo?  Muitas foram as questões levantadas e as referências foram riquíssimas.O assunto realmente não tem fim.  Discutimos muito, conversas que eu queria ter gravado de tão boas que foram para poder escutar de novo e colocar aqui para compartilhar !!!


Tentei durante as aulas ressaltar a sensação de movimento,  trabalhando a consciência do encadeamento de ações em uma sequencia coreografada, ou frase de movimentos, na perceção das direções dos vetores de força e alavancas que produzem o movimento. Exploramos diferentes dinâmicas na relação com o peso, a energia e o tempo!!!! Trabalhamos as unidades de maneiras de  materializações do rítmo e da dinâmica da teoria  ( para quem quer saber mais se chama  Ch. U. M.M.) de Rudolf Laban (swing, impulse, rebound e contínuo) e começamos a abordar "estados".

Improvisamos na rua, explorando o espaço como modificador do movimento, percebendo como que o corpo se adapta e se readapta de acordo com o espaço e  tentando trazer para dentro da realidade da sala de ensaio algumas sensações reais do mundo para gerar movimentos. Dançamos inspirados por Pina Baush por meio do filme de Win Wenders que  nos presenteou com o que já temos dentro de nós mesmos,   potencializando nossos sonhos de dança!!! Fizemos com isso um flash mob/ intervenção em dois cinemas de Brasília! Apreciamos um butoh que também era inspirado por Pina Baush...  E daí dançamos no lago Paranoá! A água nos uniu, não só pela sua matéria líquida envolvente, mas no sentido de que a experiência na água nos aproximou e nos tornou  mais grupo!!!! A dança unida com a água nos trouxe para os sentidos! Fomos tomados por um prazer sensório e estético que foi inenarrável, só se permitindo e dançando lá pra saber...... Em contraponto à leveza experimentada na água , caimos em quedas para entender o peso dos ossos e os caminhos das articulações. E para fechar nosso intenso semestre embarcamos na proposta da Teresa Castro para performar no show de Konrad durante o Cena Contemporânea. Experiência que destaco pelo processo de construção do figurino, estudo da percepção musical e como elemento da improvisãção e a experiência de dançar com uma estrutura de  improvisação dirigida, tudo em clima de dança contemporânea despojada pop divertida!






 De  acordo com a retrospectiva que minha memória me permite, chegamos nas sensações pensando sobre "estados".  E aqui estamos começando nossas explorações e elucubrações sobre sensações como geradoras de estados e potências motivadoras para  gerar movimento, tudo isso para voltarmos ao lago e criarmos uma coreografia para ser apreciada lá!!!!

Agora fiquei aqui pensando... tudo isso aconteceu só nesse semestre, foi? Gente foi tanta coisa que parece que passou um ano... Por favor, se deixei algo importante de fora complementem....






 

2 comentários:

  1. Que lindo texto, Lu! Reflete bem minha impressão: como e quanto aprendemos! Eu mesma só tenho a complementar dizendo que aprendi muito com nossas pesquisas, vivências e trocas.
    Um beijo.

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    1. Obrigada Erika!!!!!! Que bom que vc tem sentido assim! Esse grupo é muito bacana, né? Que nossas trocas se intensifiquem!!!!

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